Poker é guerra. As pessoas fingem que é um jogo

Hélder Nunes
3 min readNov 18, 2021

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Após muitos milhões de dólares e 10 braceletes da World Series of Poker, a lenda Doyle Brunson disse: “Poker is war. People pretend it is a game”

Em uma mesa de poker, normalmente se sentam entre 6 a 9 pessoas. Todos jogam por diversão, e obviamente ninguém quer perder dinheiro. Alguns querem mais curtir o jogo e se divertir do que necessariamente vencer, enquanto outros dizem que o jogo é seu “hobby lucrativo”. Mas também existem os que estão ali com motivos muito bem definidos: tomar as melhores decisões possíveis em cada mão, para assim jogar o melhor poker que ele(a) puder jogar, e por consequência maximizar os seus lucros no longo prazo. Quanto mais as pessoas estiverem ali com o objetivo de competir e estar sempre um passo à frente de seus adversários, mais perto o poker fica de uma grande guerra entre mentes, e mais longe de um mero joguinho de cartas e apostas.

Pois a pessoa que registra num torneio ou senta numa mesa de cash game e traz o melhor de si, leva para aquele momento toda sua bagagem de estudos, assim como sua experiência de outras mãos que jogou e sua estrutura psicológica. Alguém que está ali para ganhar e leva isso a sério não está simplesmente jogando baralho: ela se prepara constantemente para aquele momento assistindo aulas, lendo livros, contratando professores particulares, estudando com outros jogadores e investindo caro em softwares de estudo. Para cada decisão, seja ela um simples fold, um call ou um all-in, toda sua experiência de jogo e estudo é vital para que consiga chegar o mais próximo das jogadas ideais e, por consequência, ganhar o máximo de dinheiro possível.

E os artifícios usados para se sobressair no poker são infinitos. É possível analisar a linguagem corporal de um oponente para tentar saber se ele está blefando, perceber sua reação ao ver suas cartas, e poucos truques funcionam tão bem quanto uma boa falinha em um momento crítico. Até mesmo no poker online, onde não se conta com tantos fatores humanos, ainda assim é possível analisar o histórico de uma pessoa para ter vantagem contra ela, ou prestar atenção se ela joga rápido ou devagar de acordo com a força de sua mão. Como disse o grande Daniel Negreanu em sua célebre frase: tudo que você faz na mesa de poker transmite informação. E é tudo, mesmo: nesta mão, um dos melhores jogadores da Inglaterra analisou o pulso de um oponente para fazer uma leitura determinante.

Uns gostam de pensar que estão ali para tirar o dinheiro dos outros. Prefiro encarar o jogo como uma competição, e o dinheiro funciona como um tempero a mais, tornando o jogo muito mais envolvente e emocionante. Embora garanto que quem ama o poker de verdade jogaria, estudaria e se dedicaria mesmo se as fichas não valessem um centavo.

E no ambiente do poker, dinheiro significa muito mais do que aquilo usado para pôr comida na mesa, pagar as contas e ceder conforto. Ganhar dinheiro é sobreviver no meio do poker: lhe dá glória, destaque, resultados, estabilidade e demonstra o seu valor como jogador. Um bom torneio pode garantir o fim de um grande período de perdas ou se tornar o “big hit” que muda a sua vida. Ganhar te dá confiança, por outro lado, perder muito pode abalar psicologicamente: não é nada fácil lidar com esse tipo de variância, e evidentemente ninguém sucede como jogador de poker perdendo dinheiro.

Dado tudo isso, fica cada vez mais claro quando você entende o poker que por mais que na maioria das vezes ele seja um joguinho para se divertir com cartas, fichas e apostas, em algumas mesas os jogadores batalham fervorosamente para estar do lado vencedor de uma guerra.

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