Metalinguagem* (primeira parte)

Hélder Nunes
2 min readDec 16, 2020

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(escrito em 01/01/2020)

O céu tem nuvens que eu gosto de admirar. Minha irmã de 6 anos tem uma risada que eu amo provocar. Não consigo falar em público sobre assuntos que não entendo tão bem. Amo a tecnologia mais que amo os animais e não sei dizer se isso é errado. Às vezes meus pensamentos aceleram como um avião e eu sofro com isso. Eu gosto de filas porque elas me fazem pensar distraidamente. Acho engraçado como a palavra “indescritível” sempre aparece acompanhada de uma série de adjetivos. O ano de ‘20 é divisível por 4 e por 5 e eu acho isso legal. Tenho o sonho de um dia ver Paul McCartney ao vivo. Agatha Christie tem personagens que me fascinam pela funcionalidade da sua simplicidade. A perfeição das coisas me fascina e o caminho até ela me amedronta. Não gosto do meu sorriso, mas eu até que gosto dos meus olhos. Acho que passei mais de três horas escrevendo esse texto e não ouvi outra coisa além de MPB enquanto o escrevia. Eu tinha 8 anos quando me sentei no sofá com meu pai para receber a pior notícia que já recebi na minha vida. A exatidão dos números me confunde muitas vezes. Não entendo o que o Jorge Ben Jor quer dizer quando ele fala “então, tem que dançar dançando”. Minha melhor amiga me dá conselhos que me fazem refletir por dias. Embora eu tenha aversão a bebidas alcoólicas, tem uma garrafa de vinho em minha lixeira. Neste texto que postei às 17h39, todos os algarismos indo-arábicos apareceram uma única vez. Amo ver o sol nascer, mas raramente vejo o pôr do sol. Minha mãe um dia me disse pra eu nunca fazer o mal, e embora esse seja meu maior princípio, muitas vezes eu falhei nessa missão. Gosto de pensar que um dia todos nós seremos uma história. Não sei terminar textos.

*Eu pensei muito sobre o título desse texto. Pensei em deixar sem título, mas assim o texto perderia certa beleza que pode ter ao ser intitulado. Então pensei em colocar “despir-se”, por ele me expor de certa forma. Só que eu não gosto tanto dessa analogia da exposição com o desnudamento. Pensei sobre vários outros títulos: “a minha vida como ela talvez seja”, “o cotidiano em poucas palavras”, “resumo”, “vários verbos na primeira pessoa”. Gostei muito de “resumo”, mas não o suficiente. Então, no fim de tudo, optei por colocar o único título que me permitiria falar sobre a escolha dele ao mesmo tempo em que enfatiza o fato que o texto menciona a si próprio: metalinguagem.

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